12.6.14

UMA HISTORIA DE AMOR À PRIMEIRA VISTA NO DIA DOS NAMORADOS


para Ariane da Mota e Afonso Henrique Novaes


Em junho de 2009, o relacionamento mais duradouro que tive já dava sinais de que estava chegando ao fim. E dois ou três dias antes do Dia dos Namorados, após uma briga feia por um motivo bobo, eu já podia prever que passaria aquela data completamente em branco. Foi então que Ariane – minha amiga e naquela época também colega de trabalho – há pouco tempo solteira, me sugeriu, ao saber da minha situação, que trocássemos presentes na data, para que não ficássemos tristes. Topei.

Para aquele dia doze eu havia agendado com meus alunos uma avaliação. E foi exatamente no momento da prova, a sala silenciosíssima, que Ariane apareceu à porta me chamando e entregando o presente. Abri o pacote. Era um livro: Baladas, de Hilda Hilst, escritora que eu jamais havia lido, mas que já conhecia pelo nome e sucessivas recomendações de Afonso, um outro amigo que também me apresentou a outros autores que passei a admirar, e da própria Ariane. Agradeci o presente, dei-lhe um abraço, e combinei de nos encontrarmos no final da tarde para lhe entregar o seu.

Como não havia outra coisa a fazer a não ser fiscalizar os alunos em prova, decidi começar a ler o livro, para ver se de fato iria gostar dessa Hilda tão recomendada. E bastou ler a primeira página, o primeiro poema – me acertou em cheio aquele conjunto de versos. Fiquei tão completamente emocionado,  fui tão flagrado na minha sensibilidade, que não pude conter o que sempre evitei acontecer na frente dos alunos: eu chorei. Tentei disfarçar, mas, de pé à frente de umas quarenta pessoas, foi inevitável que pelo menos um ou dois estivessem olhando para mim no momento e perguntado em voz alta: está chorando, professor? Aguçando a curiosidade de todos.   Respondi: estou sim, mas não se preocupem, estou chorando de beleza, apenas de beleza... E ergui o livro para tentar ajudar na justificativa. Alguns riram, mas, ainda bem, não deram muita importância e voltaram à prova. Então li mais uns outros sem receios. E chorei ainda mais – de uma dor que só a verdadeira Beleza provoca, de comunhão profunda do meu eu com aquele outro que dizia todos aqueles versos, de um arrebatamento de amor à primeira vista, à primeira leitura. 

Desde então, apaixonadamente, percorri os passos da Hilda. No final daquele ano, já tinha quase todos os seus livros (que não são poucos) e já havia lido praticamente todos. Este amor dura até hoje, leal e como desejo que todo amor que me venha seja: me emocionando, me divertindo, me melhorando, crescendo comigo, segurando minha mão no escuro, e sendo comigo amor e morte ao mesmo tempo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito :')

Anônimo disse...

Perfeito :')