15.8.10

QUINZE DE AGOSTO DE DOIS MIL E DEZ

Remexendo em um antigo caderno de anotações, reencontro uns escritos que, embora não lembrasse onde estavam, jamais havia esquecido do conteúdo. Porque quando eles me aconteceram, quando eu os senti, vieram como as coisas mais bonitas jamais escritas ou lidas por mim. Não anotei com nomes ou sexo de personagens. Pois independente de quaisquer que sejam seus protagonistas, continuaria bonito.

TRECHO I
Personagem1 estava no hotel dormindo. Havia saindo na noite anterior com o Personagem2 e havia sido muito bom. Queriam ter dormido juntos para aproveitar melhor o pouco tempo juntos já que não moravam na mesma cidade, mas o amor entre os dois ainda era descoberta e segredo. Personagem2 não teria como explicar a seus pais uma noite inteira fora de casa. Personagem1 não insistira, estava cheio de medos e suas fragilidades lhe perturbavam. Sabia que ainda não estava envolvido por Pernagem2 como estava por ele. Mas há muito ninguém lhe parecia valer tanto a pena. Acordou meio que de sobressalto, com batidas na porta de seu quarto. A recepção na havia anunciado ninguém. Ainda era tão cedo. Quem seria? Abriu a porta, sonolento.
 
– Personagem2??!! Já acordou? Você nem deve ter dormido, né?
 
– Não consegui não, estava esperando que amanhecesse logo para sair de casa e vim para cá. – respondeu respirando forte, quase sem fôlego.
 
– E o que aconteceu, por que você está assim, ofegante, aconteceu algo?
 
– É que eu vim de casa para cá andando, você sabe, não é longe. Mas daí eu vi que se eu apenas andasse ia perder um tempo que eu poderia estar aqui contigo, então vim correndo.
 
Personagem1 não conseguiu dizer nada. Apenas abraçou-lhe e beijou-lhe num misto de encantamento e gratidão. Nunca ninguém havia lhe feito algo tão bonito.


TRECHO II
Dois anos havia se passado. O amor dos dois não era mais segredo para ninguém. Mas Personagem1 havia escolhido aquele mesmo quarto de hotel para se encontrarem. Estavam em crise. Ele não conseguia entender por que Personagem2 estava tão intolerante. Sobretudo agora que, vencendo grande parte de seus bloqueios, tinha certeza do amor que devotava a ele(a). Não avisou a ninguém que viria. Durante o dia haviam apenas se entregado um ao outro num sexo de saudades. Mas era preciso uma conversa.  Personagem2 falava com um tom de irritação, usando verbos no passado e dizia não agüentar mais. Personagem1, segurando o choro, perguntou: 

– Então não dá mais para tocar a nossa música? – referia-se a Unison, música da Björk, que eles tanto gostavam.
 
Durante muito tempo ficaram em silêncio, até que Personagem2, também com voz de choro, responde:
 
– Dá sim, ainda dá sim para tocar a nossa música.
 
Abraçaram-se. Personagem2 por cima de Personagem1, deitados.
 
– É amor, eu te amo, isso é amor, você sente? – perguntou Personagem1, dizendo aquilo como jamais havia dito antes a ele(a) ou a ninguém.
 
– Sinto, sinto sim.
 
Personagem1 estava feliz como mesmo antes de conhecer Personagem2 não se sentia. Então amaram-se de novo.


Juro que já tentei inserir esses dois trechos numa história que eu vinha escrevendo. Não deu certo. Como já disse aqui em uma outra postagem, não sou bom escritor. Não consegui dar um final feliz à história. E eu não quero, não quero mesmo dar a essas duas passagens tão bonitas que me vieram em dias de inspiração um final infeliz. Prefiro então deixá-las assim, fragmentadas. E cada um que as ler, que recriem com elas histórias em dias de sol e com pessoas de belos sorrisos sorrindo. Principalmente no fim.

4 comentários:

danecabeck disse...

agora á tarde da noite, nao há sol, também nao sei se há lua...
e eu chorei... porque os amor que se perdem pelo mundo de certa forma me visitam as vezes.
Eu ainda nao entendo, mas se um dia entender o que acontece te conto.
Beijo

danecabeck disse...

agora á tarde da noite, nao há sol, também nao sei se há lua...
e eu chorei... porque os amor que se perdem pelo mundo de certa forma me visitam as vezes.
Eu ainda nao entendo, mas se um dia entender o que acontece te conto.
Beijo

Diego Drush disse...

Prefiro assim. Deixe o final no imaginário de cada um de nós, seus leitores. Dê esse presente para que as pessoas possam construir da forma que melhor lhes convém.

Diego Drush disse...

Ah, eu esqueci de dizer que amei ler essas palavras.