7.6.08

DE QUANDO EM VEZ OU O PORQUÊ DO BLOG

“poetas sem livro de versos — bissextos pela escassez de sua produção”
Manuel Bandeira

Há muito que me despi da timidez em mostrar o que escrevo. A razão pela qual começo tardiamente — segundo o considerável número de entusiastas que tive para a construção deste blog — a divulgar-me através deste suporte não é outra senão a consciência de minhas limitações e fragilidades para produzir. Não posso me queixar da freqüência de momentos de inspiração – sobretudo numa vida costumeiramente tão repetitiva como a minha. No entanto, sempre é muito longa a gestação dos frutos que tais momentos fecundam em meu coração e mente.

Meu processo de escrita é lento. Exijo de mim, na maior parte das vezes, mais do que eu previamente sei que sei. Então vou tentando. Guiado pela música das palavras agrupadas e pelas pistas que elas vão me dando — tal elas mandam mais em mim que eu nelas. Não é nada fácil. Há momentos em que elas simplesmente não combinam, brigam, falam alto, não obedecem ao curso que eu quero lhes dar. E sou eu sozinho para domá-las.

E é exatamente por isso que, apesar de tudo, é só com a escrita que me aproximo do que eu realmente quero dizer. A rapidez da oralidade não me permite manejo satisfatório com animosidade das palavras e acabo por me atrapalhar em constantes atropelos. Se eu suportasse me calar, sei que seria bem menos complicado. Mas não. Dizer é um de meus modos de existir. E para que o ato de dizer não seja vão, preciso que me escutem, que me leiam. Para existir preciso do outro. Quase abstrato — pequeno que sou. Pequeno demais para suportar as minhas dores. “Por isso”, assim como Drummond, “gosto tanto de me contar. / Por isso me dispo, / por isso me grito, / (...) preciso de todos.”

Este blog me auxiliará, carregando e exibindo as mais sinceras verdades que os acontecimentos me revelarem e me fizerem sentir, através crônicas, contos ou qualquer outra forma que ganhem. Só não esperem poema. — Apesar da epígrafe inicial e de desconfiar que tenho espírito mais ou menos de poeta, não tenho qualquer habilidade com o manejo do verso. A partir de hoje postarei diariamente alguns textos que já escrevi, há pouco ou há muito tempo. Depois, como já deve ter ficado claro, não contem com periodicidade regular... Este blog é de um autor bissexto!

6 comentários:

Mr. Crocodile disse...

Que honra inaugurar o seu comment book, ruivo! Muito justa a sua introducao... todo bom projeto merece algo solene pra comecar e guiar o rumo. Espero que os textos bissextos sejam mais frequentes do que o nome, metaforicamente, sugere. Beijao!

Anônimo disse...

Gostoso demais "te ler", assim como te ouvir pessoalmente a se expressar. Tenho gosto também por essa brincadeira com palavras "parecidas". Muitos beijos!

Anônimo disse...

carioca, te lerei todo: despir-se à altura.
sentarei no teu sofá toda vez que vier aqui ver um pouco de você.

Anônimo disse...

enfim a conjuntura dos planetas resolveu exercer o seu poder!!!

Anônimo disse...

Que presentão nós ganhamos com a criação desse blog. Adentrar o seu universo é algo muito prazeroso. É exatamente assim que me sinto ao ler você. É tudo tão bem descrito e tão deliciosamente interessante que mergulhamos nele. Você é o melhor amigos das palavras, indubitavelmente. Tenho certeza de que quem ler o primeiro não vai querer mais deixar de sentir o que você, habilidosamente, nos faz sentir.

Um beijo, Filipe.

aquático disse...

"Dizer é um de meus modos de existir. E para que o ato de dizer não seja vão, preciso que me escutem, que me leiam. Para existir preciso do outro. Quase abstrato — pequeno que sou. Pequeno demais para suportar as minhas dores. “Por isso”, assim como Drummond, “gosto tanto de me contar. / Por isso me dispo, / por isso me grito, / (...) preciso de todos.”

no fragmento aí em cima conseguiram se fazer presentes o meu primeiro post lá no blog, uma das sessões de psicanálise que eu tive, e até o e-mail que eu (também) mandei depois de criado o blog. hahaha! ;)

e que fluam as palavras!